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23/03/2014

Guerra de classes também é guerra de gente

Sabe aquela paz almejada, desejada e que era um desejo de senso comum até muito pouco tempo atrás? Parece que ela está sumindo aos poucos das linhas dos discursos políticos cada vez mais inflamados de parte da juventude brasileira. Se antes morrer pelo país era algo tão burro e "medieval" que não merecia sequer atenção e debate, a cultura de morte na qual vivemos hoje nos convenceu de que devemos matar e morrer por muito menos.

Sendo brasileiro há uns 25 anos apenas, nunca tive exemplos realmente suficientes do que é o patriotismo. Aprendi na escola que "o patriotismo são duas pessoas pobres morrendo pelo interesse das pessoas ricas". Uma doutrinação perigosa, já que estimula a paz (negando o patriotismo) estimulando o ódio (entre as classes sociais). Dito e feito. Hoje somos milhões de pessoas que odeiam as guerras promovidas pelo patriotismo estadunidenses mas prontas a destruir alguém (seja física ou moralmente) apenas por não seguir cegamente seu ponto de vista.

A verdade é que já há uma ditadura, a ditadura das opiniões. Questionar, levantar uma opinião que não seja a corrente, já é motivo para você ser ridicularizado, ofendido e maltratado por ditos "amigos" como se a relação humana e de afeto pre-existente não fossem o suficiente para sobreviver a uma simples divergência de opinião.

As ofensas estão por aí. A intolerância está por aí. O ódio crescente por "homens, brancos e heterossexuais" já se tornou uma bandeira. Não há discurso que me convença de que para corrigir uma injustiça histórica, é necessário criar outra injustiça. A briga vigente hoje não é por libertação, mas por imposição de algo mais forte, mais truculento, mais injusto. Esquecemos contra quem lutamos. Talvez nunca soubemos de verdade. Lutamos pela insatisfação, mas sem distinguir um inimigo. 

Levamos a guerra em um estado deplorável. Não nos preparamos para ela, não estudamos sobre ela, não entendemos contra quem é ela e por isso somos presas fáceis de um costume que nos pede para nos escondermos atrás das máscaras e da anonimidade pois, afinal de contas, para protestar contra um inimigo invisível, nada como um protestante anônimo.

Eles venceram. Não há modo mais fácil de se conquistar um país senão dividindo sua população. Não há mais pessoas, não há mais dignidade humana. Há posições, há um fanatismo violento que ultrapassou as brigas dos campos de futebol. Essa guerra já existe, está presente em cada ofensa gratuita que você faz a alguém "do outro lado". Está implícita na sua falta de discernimento em perceber que todos somos iguais. O racismo começa aí, a escravidão começa aí, o genocídio começa aí: na incapacidade de enxergar no outro, alguém exatamente igual a nós.

Que Deus nos proteja de nossas próprias misérias, e que nos faça entender que quando brigamos com classes diferentes estamos brigando com pessoas iguais.

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