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14/05/2015

Apenas mais uma carta de (ex) amor

Não deu. Se estás a ler esta carta é porque não estou tão perto o suficiente para conversarmos ao pé do ouvido. Significa que não deu. Suas escolhas o levaram para tão mais longe de mim que qualquer acaso poderia afastar. Já não estás nessa cidade, já não estás em meus círculos, já não fazes parte da minha realidade.
Tínhamos tantos sonhos iguais, lembra-se? Éramos tão parecidos que parecia fato vivermos para sempre juntos, algo de que nem se é preciso planejar. Apenas aquilo nos diferenciava, aquele pequeno detalhe que tudo mudou: você queria o mundo, eu queria nossa casa. E não estava louca por pensar assim. Lembra-se quantas tardes perdemos em nosso paraíso infinito no quintal do fundo, onde ali haviam duas árvores uma rede? Lembra-se de que nada mais precisávamos para rirmos de nós mesmos e dos outros sem que nada nem ninguém nos condenasse?
Mas você queria mais. Mais? Tivestes de menos. Menos carinhos dos carinhos que eu fazia em ti. Menos tempo para se perder em tardes ociosas ao canto indefinido dos pardaizinhos que ciscavam pelo chão. Conquistastes o mundo na cidade em que vives mas perdestes tua casa em troca de meros imóveis de luxo.
Sei que em nossas cabeças surgirão desculpas. "Não era para ser", inventaremos em algum momento de consolo próprio. Mas você e eu sabemos que pode ser que fosse, e que o fardo de carregar consigo as consequências da vida pode ser pesado demais para não decidir com o destino.
Existe o destino? Creio eu que não. O destino está mais para as chatas leis de um tal de Newton. São consequências, tal como um impulso físico, uma mera consequência. Tens o que decidistes ter e perdestes o que não quisestes. O destino por fim sempre se casa com a lógica. Mas e o coração? Este se engana. Não pelos outros, mas por nós mesmos, a cada desculpa esfarrapada que inventamos e chamamos de sabedoria.
Talvez tenha sido culpa minha, talvez tua. Talvez não haja culpa, mas apenas as consequências de dois corações incautos que resolveram a seguir a si próprios. Deveríamos saber que a razão sempre vence: "o destino por fim sempre se casa com a lógica", lembra-se? Mas tanto faz. Nossa história é tão boa quanto todas as outras. Lamento apenas o fim precoce, mas de qualquer modo haveria fim.
Adeus.

2 comments:

Unknown disse...

Muito bom!!!! Parabéns

Unknown disse...

Muito bom!!!! Parabéns

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