Sou a soma de todos os dias desses 31 anos que completo hoje. Nesse tempo me alegrei com quem nasceu, chorei a morte dos que se foram, andei por lugares que sonhava ou por outros tantos que jamais imaginaria.
Conheci pessoas de todos os tipos, de muitas origens e opiniões. Algumas reconheci na primeira vista, e sabia que comigo ficariam. Outras duraram o que duraram, algumas o tempo de uma única conversa, ao ponto de lembrar sequer o nome: todas carrego comigo.
Provei infinitos sabores, texturas, climas. Experimentei a distância, a saudade e a solidão. Dei e tive colo, magoei e fui magoado. Vivi consciente os melhores momentos que poderia ter. Tenho amigos, bons amigos, e uma legiao de pessoas que não convivo, mas que rezo e amo em silêncio. Afastei gente que eu não queria, mas aprendi e fiz o que pude.
Aprender aliás, foi uma constante: busquei saber tudo o que estava ao meu alcance, só para saber, para tentar entender.
Como ao Nietzsche, a vida não me desapontou. Também gosto cada dia mais dela, ainda que ela me leve a um futuro que temo, e que é inevitável.
Acerca do medo, tenho muitos. Não me fazem recuar, pois tenho um travesseiro, um colo e uma prece. Aos 31 anos meus medos mais doem do que assustam.
Sinto saudades da minha infância, enquanto me fogem o cheiro e as lembranças dela. Começo a sentir saudades da juventude. Os novos tempos não são ruins, mas sempre tive dificuldade pras mudanças, e agora parece que as dificuldades aumentaram.
Hoje amo mais do que sempre amei. A miopia aumenta, mas enxergo muito mais.
Algumas coisas não mudaram depois dos trinta:
- a água correndo no vidro do carro quando chove ainda me encanta;
- me sinto feliz quando vejo meus pais;
- me apego às lembranças que os objetos guardam;
- ainda cumprimento mentalmente os estranhos que cruzo, e fico a me perguntar quais histórias incríveis eles teriam para me contar.
Fazer 31 anos é acabar de vez com qualquer prodígio. Quem liga para o que um adulto não brilhante (ou idiota demais) pensa ou faz?
Esse texto não acaba. Não consigo finaliza-lo. Assim como minha vida, que espero que de estenda, de preferência como está, mesmo que seja impossível.