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08/11/2014

O  relógio marca pontualmente as 8h enquanto inicio esse texto. 8h do dia 8 de novembro, ou seja, de um sábado. Ainda não me acostumei com a ideia de estar acordado em momentos tão improváveis. Logo eu que sempre fui um apaixonado pelas manhãs dorminhocas que costumavam embalar os meados dos meus finais de semana.
Aprendi quando criança que conforme a idade passa, precisamos dormir menos. Não sei se é isso o que está acontecendo agora nos meus vinte e tantos anos. Acho que não. Sigo com a necessidade de dormir, mas preciso - digamos - de algo que antes não precisava: preciso dormir enquanto é noite. Por isso o sono chega mais cedo e por isso vai embora mais rápido, me permitindo presenciar cenas até então inimagináveis: ver meus pais levantando, por exemplo.
A disposição em estar em pé logo cedo marca uma segunda fase de mudanças em minha vida. É claro que mudamos todos os dias, mas existem fases que realmente percebem-se mudanças. A primeira ocorreu com a chegada da adolescência. Mais dramática que essa, com certeza, talvez pelo fato de nunca ter me ocorrido que a vida mudaria nossa ótica. A outra agora.
8h08 agora. Estar acordado não significa disposto a escrever. É um tema que vou voltar a falar. Só isso.

06/11/2014

De passagem...

Sei que está de passagem e que não tardará em partir. Sei que esse reencontro nos proporcionará mais uma despedida, e mais uma vez ficarei aqui vendo os dias passarem, me distanciando cada vez mais do tempo que estive contigo. Sei que vou sofrer e terei que lidar com as minhas feridas. Sei que me arrependerei e chorarei sua ausência. Sei que quererei ter escolhido não te encontrar, não ter te conhecido, não ter vivido. Você vai e ficam comigo todos os lugares que me fazem pensar em você. Você vai e deixa comigo a angústia de esperar a próxima vez. Haverá uma próxima vez? Só a mentirosa esperança me faz acreditar nisso. Sei que nosso tempo é finito e tão breve quanto o brilho de uma estrela cadente. Sei dessas coisas, mas eu sei o que eu quero. E eu só quero você.

04/11/2014

Quando acaba a esperança...

Afinal de quem é a culpa quando um jovem comete suicídio? De quem é a mão que puxa o gatilho? Quem foi de fato que lhe transpassou a faca?

Vivemos tempos de denúncias, de ódio escancarado. Quando tentamos encontrar a solução apontando os dedos uns aos outros com discursos raivosos e em altos decibéis. Mas e quando um jovem tira sua própria vida, ele é a vítima ou o homicida? A quem devemos denunciar e condenar?

A nós mesmos. A todos nós que permanecemos vivos e com sentido de vida. A todos nós que mantemos acesa alguma chama de esperança e esquecemos de partilha-la com  quem se foi.

Perdemos tempo demais encontrando defeitos nos outros enquanto somos nós os omissos que matam com tal omissão. Quantas vidas poderiam ser preservadas apenas se partilhássemos aquilo que enche nossos corações.

Passamos muito tempo olhando para os culpados e muito pouco tempo para quem precisa ser cuidado. Ninguém se suicida de uma hora para outra. Antes, certamente, houve o anúncio da tragédia através de um olhar suplicante, sedento por respostas, ansioso por sentido.

Negamos-lhes o sentido. Ocultamos a reflexão. Oferecemos respostas mundanas quando a necessidade lhe era o eterno. Oferecemos a solidão e a ilusão de se lutar por um novo Éden. Destruímos as almas e elas estão indo embora com o nosso consentimento.

Que Deus tenha piedade das almas que se suicidaram. Que Deus tenha piedade também de nós.
 
Copyright 2014 Cristiano Borges