Guarulhos,
sexta-feira. Passava da meia-noite e lá eu me encontrava em uma rua qualquer da
periferia. Fazia frio e o clima convidava para uma boa noite de cobertas,
pipoca e filme. Ainda assim havia uma pequena movimentação na frente daquela
casa cujos donos nem conheço o nome. E nem precisou saber. Ao aproximar-me, fui
bem recebido e nem precisei me explicar, fui convidado a entrar. Estava ali
após um convite inusitado de um amigo: "Vamos rezar o terço?".
"Ok!" Foi assim que saímos de Campinas para experimentar o
inesperado.
Ao
entrar na casa, lá nos fundos, em uma varanda, mal pude acreditar: mais de 60
jovens sentados, esperando a oração começar. Acomodei-me e pude observar a
todos ali presentes. Homens, mulheres, negros, brancos, loiros, e toda a
diversidade que se pode encontrar. Todos devidamente agasalhados, mas felizes.
Encontrei muitos sorrisos naquela noite.
E iniciou-se
o terço, com a participação de todos. Sem conversas paralelas, sem grandes
espetáculos (dois violões acompanhavam as vozes na hora que se era para
cantar). Entre um mistério e outro, uma singela e significativa apresentação
teatral. Ciente da mística que envolve o terço cheguei a imaginar Maria por
ali, feliz em ver tanta gente atendendo seu pedido, mas confesso que passou
pela minha cabeça: "devem estar aqui pela festa que acontecerá
depois".
Doce engano.
Ao término
do terço, com os corações aquecidos todos se levantaram, cumprimentaram-se e me
acolheram ainda mais. Aos poucos foram se despedindo e indo embora. Outros
insistiam em ficar e na pauta das conversas, sempre uma partilha de
experiências. Iam embora prometendo se encontrar na próxima sexta-feira, como
tem acontecido nas últimas mais de 60 sextas-feiras desde que eles decidiram,
em um momento de dor, iniciar o grupo. Fui embora também, sentindo-me em casa,
em família, com novos amigos e novas experiências.
Estiveram lá
para rezar, simplesmente porque rezar é importante. E naquele anônimo encontro
percebi a grandeza de nossa fé. Estamos vivos e estamos por aí quando menos se
espera, mais fortes do que se pode imaginar.
É bom ser
católico, é bom ser família onde quer que eu vá.
Que
Deus nos abençoe.