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30/01/2018

Sobre a extinta simplicidade...

Se viver é tão simples, por que ao mesmo tempo não é? Estamos nós a complicarmos ou os fatos estão tão bocados decadentes que viver, especialmente agora, é realmente difícil?

Não faz muito tempo, li em algum livro sobre alguma nuvem de angústias e incertezas que viviam o povo do declínio da Idade Média. Tudo se encaixa: quando uma era se declina para o início de outra, há tantas transformações e inseguranças que o pobre coração humano parece não aguentar. Convenci-me por alguns momentos e em seguida voltei a ficar perturbado: não devo estar triste por causa da época ou porque estou fadado a ser.

Pode até ser soberba, essa coisa de querer ter os méritos da própria tristeza. Complicar sim mas por si próprio. De onde vem não deveria fazer diferença, mas faz. Porque o sentir vai além de uma consequência. Sentir, coisas boas ou más, necessita passar pela decisão de o fazer: sinto o que sinto, e sinto o fazer-me sentir.

Pois é, duas teorias e nenhuma explicação. O carma ou a decisão? Recolho-me aos meus pensamentos e percebo que não falei sobre nada o que queria dizer, mas sigo em frente. O fato é que quero dizer que complicamos realmente as coisas, a vida, o trabalho, a poesia. E tudo isso dói, porque não deveria ser assim. Por que então não somos o que deveríamos ser? Que tendência é essa de fugir do que é bom?

A teologia diz que há de fato um porquê, mas distancia ainda mais do meu controle. Não eu quem decide ser assim, e nem o declínio da minha época, mas minha própria natureza. Sou um prisioneiro de mim mesmo e das minhas circunstâncias. Alma infeliz é a minha que não se socorre e renega ajuda. Se viver é tão simples, por que não sou simples? Sigo buscando, e tentando, e tentando...
 
Copyright 2014 Cristiano Borges