Querida, estou de volta. De volta àqueles lugares, os mesmos lugares que já não são mais os mesmos. Vejo de novo o velho jornaleiro cujas manchetes já não importam mais. Volto para as ruas por onde passamos mas agora que passo não reconheço mais. Não há mais as flores que costumava ver ou talvez o aroma falso que fingir sentir. As crianças seguem brincando como em todo verão. É verão? Nem parece verão. O céu que vejo é cinza nessa velha rua que não reconheço mais. Cinza porque não o vejo, apenas imagino. Não olho mais para cima como costumava. Só vejo o chão sujo dessa rua qualquer. Tão diferente dos tantos corredores limpos que cruzei tantas vezes para te encontrar naquelas tardes de visita em que com aperto tínhamos de nos separar. Daquele hospital carrego o cheiro típico dos hospitais, e trago-o comigo para essa rua que não é mais nossa.
Meu amor, estou em nossa casa que já não é mais nossa. Nem minha. Desconheço essas paredes que se tornaram tão frias agora que não está. Desconheço esses cômodos tão grandes que pareciam tão pequenos quando inventava de replanejar os móveis. Desconheço o homem que vejo no espelho daquela suíte que costumava ser nossa. Já não estás aqui amor, e levaste contigo tudo o que existia porque do que sobrou, nada mais existe, nada mais tem cor, nada mais importa.
Voltei amor, mas fiquei. Fiquei contigo e morri contigo. Estou onde estás, enquanto perambulo pelos nossos lugares que já não são mais nossos e hoje encantam outros casais. Não sou mais eu amor, não estou de volta. Não sei quem sou...