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27/10/2014

Querida, estou de volta. De volta àqueles lugares, os mesmos lugares que já não são mais os mesmos. Vejo de novo o velho jornaleiro cujas manchetes já não importam mais. Volto para as ruas por onde passamos mas agora que passo não reconheço mais. Não há mais as flores que costumava ver ou talvez o aroma falso que fingir sentir. As crianças seguem brincando como em todo verão. É verão? Nem parece verão. O céu que vejo é cinza nessa velha rua que não reconheço mais. Cinza porque não o vejo, apenas imagino. Não olho mais para cima como costumava. Só vejo o chão sujo dessa rua qualquer. Tão diferente dos tantos corredores limpos que cruzei tantas vezes para te encontrar naquelas tardes de visita em que com aperto tínhamos de nos separar. Daquele hospital carrego o cheiro típico dos hospitais, e trago-o comigo para essa rua que não é mais nossa.
Meu amor, estou em nossa casa que já não é mais nossa. Nem minha. Desconheço essas paredes que se tornaram tão frias agora que não está. Desconheço esses cômodos tão grandes que pareciam tão pequenos quando inventava de replanejar os móveis. Desconheço o homem que vejo no espelho daquela suíte que costumava ser nossa. Já não estás aqui amor, e levaste contigo tudo o que existia porque do que sobrou, nada mais existe, nada mais tem cor, nada mais importa.
Voltei amor, mas fiquei. Fiquei contigo e morri contigo. Estou onde estás, enquanto perambulo pelos nossos lugares que já não são mais nossos e hoje encantam outros casais. Não sou mais eu amor, não estou de volta. Não sei quem sou...

07/10/2014

Pequenas bobagens diárias...

Dos pequenos prazeres da vida, é inquestionável o de se comer um Nutella gratuito. É, gratuito, de graça, sem custo, pago por alguém. É que já cresci com a ideia de que o Nutella é um produto caro. Hoje sou meio independente e com meu trabalho consigo comprar um ou outro pote por mês, mas ao tentar passa-lo no pão, sempre vem aquele ímpeto de dar uma "miguelada" para ver se dura mais, sabe, um peso na consciência. Já comi Nutella no pão, já fiz uma outra receita com ele, já me esbaldei comendo direto daqueles potes gigantes que a gente só acha quando está "lá fora". Mas quando consigo comer de graça, não há limites para a espessura do recheio, não há contagem de colheradas, não há culpa, só há paz com gordices e nesses instantes, nesses pequenos instantes de graça, me sinto no céu.
 
Copyright 2014 Cristiano Borges